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Pesquisa avalia benefício do benzonidazol na doença de Chagas

21/01/2019
Por : 
Fiocruz Bahia

O benzonidazol (Bz) é considerada droga de primeira linha para o tratamento etiológico da doença de Chagas, por apresentar melhor tolerância e causar menos efeitos colaterais. O estudo, conduzido pelos pesquisadores Manoel Barral Netto, da Fiocruz Bahia, e Edmundo Câmara, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), comparou pacientes com doença de Chagas não tratados e tratados com Bz a longo prazo e usou uma abordagem analítica que integrou características clínicas com parâmetros de eletrocardiograma, ecocardiograma e marcadores imunológicos. Clique aqui para acessar o artigo publicado no International Journal of Infectious Diseases.

A doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, é um grave problema de saúde, afetando 6 a 7 milhões de pessoas em todo o mundo e levando a cerca de dez mil mortes a cada ano. Embora a mortalidade por essa enfermidade tenha diminuído, ela ainda causa várias consequências irreversíveis nos sistemas cardiovasculares de 20 a 30% dos indivíduos infectados. Estima-se que mais de US$ 1 bilhão por ano seja gasto mundialmente em morbidade associada à cardiomiopatia chagásica.

Apesar de ser pouco clara a eficácia dos medicamentos tripanocidas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a realização do tratamento, pois esses fármacos são eficazes durante as fases aguda, indeterminada e, provavelmente, na crônica leve da doença. Alguns estudos anteriores, comparando os resultados de pacientes com doença não aguda tratados com benzonidazol, indicaram que a medicação previne a progressão da doença. No entanto, a eficácia do tratamento tripanocida permaneceu pouco clara em outros grupos de pesquisa.

No Brasil, a eficácia do tratamento com Bz diferiu significativamente de outros países. Tem sido demonstrado que o tratamento com benzonidazol pode ter um impacto na resposta à doença, mas esses achados não foram relacionados à melhora clínica. Como a vantagem clínica do tratamento da doença de Chagas permanece indefinida, uma investigação mais aprofundada de sua eficácia e seus mecanismos potencialmente protetores podem ajudar a estabelecer sua utilidade.

De acordo com os pesquisadores, provavelmente, este foi o primeiro estudo a comparar várias citocinas e quimiocinas na fase cardíaca indeterminada e crônica da doença de Chagas, em pacientes tratados com benzonidazol versus aqueles não tratados, e, simultaneamente, investigar a função miocárdica nessa população com Doppler tecidual. 

Resultados

Os estudiosos recrutaram pacientes ambulatoriais, entre 2012 e 2013, de dois centros de referência no estado da Bahia, para estudo de coorte prospectivo. A maioria dos indivíduos dos grupos tratados e não tratados era do sexo feminino (67% e 70%, respectivamente). Nenhuma diferença foi observada em termos de sexo ou idade. O grupo não tratado foi diagnosticado com Chagas por um período maior do que o grupo tratado. Além disso, mais dispneia foi relatada no grupo não tratado versus grupo tratado.

Os resultados mostraram que o grupo de pacientes tratados com Bz teve aumento dos níveis plasmáticos de IL-17 (uma citocina relacionada à melhora da função cardíaca) e função miocárdica preservada. Também foram comparados os dados usando o Doppler tecidual, que mostrou que pacientes tratados tiveram melhor preservação da função ventricular esquerda e direita.

Dessa forma, níveis aumentados de IL-17, um fator de proteção, juntamente com melhor função miocárdica, reforçaram a ideia de efeitos benéficos do Bz no tratamento da doença de Chagas, mesmo em pacientes com doença cardíaca leve.

Esta matéria foi originalmente publicada pela Agência Fiocruz de Notícias. 

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