Um projeto inovador, que visa criar um kit diagnóstico capaz de detectar o vírus zika em fluidos corporais (sangue, saliva e urina) de pacientes, está sendo desenvolvido com a participação de profissionais da Fiocruz Pernambuco. Os pesquisadores Lindomar Pena e Constância Ayres coordenam a equipe brasileira no estudo e realizarão testes, respectivamente, nos laboratórios de Virologia e Entomologia da instituição. O projeto é liderado pelo professor da Universidade de Toronto Keith Pardee e reúne cientistas de nove laboratórios, em cinco países (Canadá, Estados Unidos, Brasil, Colômbia e Equador).
A ideia é que o kit seja rápido, específico e de baixo custo, usando redes de genes sintéticos, que não dependem de cultivo em células. A parceria com a Fiocruz PE e com os institutos de pesquisa da Colômbia e do Equador permitirá estender os estudos preliminares - que serão feitos pelos pesquisadores canadenses e norte-americanos - para testes de campo, visando desenvolver e validar esses sensores moleculares em amostras de humanos e insetos vetores.
Para Lindomar Pena, trata-se de uma boa oportunidade de vir a ter essa tecnologia revolucionária em uso no Brasil. “A disponibilização de uma ferramenta de diagnóstico como esta tem grande potencial de contribuir para prevenir a propagação da doença na população e melhorar o manejo clínico de pacientes, tanto na América Latina quanto globalmente”, afirma. A sua contribuição à pesquisa será no campo da virologia, utilizando amostras clínicas de pacientes em diferentes fases da doença e comparando com o “padrão ouro” atual, que é a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR), uma tecnologia de alto custo, que depende de mão de obra altamente especializada e de equipamentos caros e sofisticados. Isso limita a capacidade de diagnóstico laboratorial do Zika em países em desenvolvimento e em laboratórios com infraestrutura básica.
Já a equipe coordenada por Constância Ayres desenvolverá suas atividades em duas etapas. A primeira, em laboratório, será a validação do teste, com as amostras positivas disponíveis no Departamento de Entomologia da Fiocruz PE. Comprovada a eficiência do teste diagnóstico, será realizado o trabalho de campo. “Com esse teste poderemos processar as amostras na hora da coleta e saber se aqueles mosquitos estão infectados ou não. Isso vai permitir uma resposta muito mais rápida”, explica Ayres. Para ela, essa pesquisa vai ajudar a identificar a diversidade dos vírus que estão circulando - o que é importante nos estudos de desenvolvimento de vacinas, por exemplo - e amplificará a capacidade resposta dos serviços de saúde.
Na busca de desenvolver um teste rápido e barato para a doença, o projeto envolve três frentes de pesquisa. Primeiro, o desenvolvimento de sensores de ZIKV mais rápidos e uma nova classe de sensores, capazes de detectar as diferenças de uma única mutação entre as cepas do vírus. Nesse campo, o enfoque não será apenas no zika, serão desenvolvidos também sensores diagnósticos para os vírus da dengue, da chikungunya e da febre amarela, fornecendo uma plataforma de diagnóstico mais completa. Em seguida, será desenvolvida uma plataforma microfluídica digital de baixo custo, para manipular e preparar amostras para o diagnóstico molecular. Com essa plataforma portátil, integrada de microfluídicos e sensores, será possível realizar diagnósticos inclusive em ambientes fora de laboratório e com poucos recursos. Por fim, em colaboração com os laboratórios do Brasil, Colômbia e Equador, essas tecnologias serão implementadas nas regiões de surtos e epidemias de ZIKV.
Iniciado em março deste ano, o projeto prossegue até 2020, com investimentos do Canadian Institute of Health Research (CIHR) e International Development Research Centre (IDRC).
Esta matéria foi publicada originalmente no site da Rede Dengue, Zika e Chikungunya da Fundação Oswaldo Cruz.