O câncer está entre as principais causas de morte no mundo, isso o caracteriza como um importante problema de saúde pública. Atenta a esta demanda, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) desenvolve um projeto de antineoplásico com um derivado perílico solúvel do limoneno. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão sistemática de ensaios clínicos sobre a eficácia, a segurança e a tolerabilidade do uso do limoneno, álcool perílico (POH), ácido perílico (POOH) e perilaldeído (PAH) como agentes anticâncer, visando subsidiar as tomadas de decisão daquele projeto. A pergunta da pesquisa clínica construída a partir da estratégia PICOS-T, foi “qual é a evidência em humanos que o limoneno, álcool perílico, ácido perílico e perilaldeído são um tratamento efetivos e seguro para câncer (qualquer tipo) e lesão pré-cancerosa?”. A metodologia para a execução desta revisão sistemática seguiu as orientações da Colaboração Cochrane. A busca nas bases de dados ocorreu em 23/11/2018 e utilizou 8 bases de dados (PubMed, Embase, Scopus, OVID, Web of Science, The Cochrane Library, Integrity e SciFinder), 1 biblioteca virtual (SciELO) e 4 bancos de registro de ensaios clínicos (clinicaltrials.gov, ICTRP, NCI e ReBEC). Foram obtidos 2533 referências para o limoneno,1383 para o POH e POOH e 65 para o PAH. Após as triagens verificou-se que não havia ensaios clínicos para o PAH e POOH. Foram selecionados para a revisão sistemática 20 ensaios clinicos para o POH e 1 para o limoneno. Três ensaios clínicos do POH só tiveram analisados seus desfechos de segurança. Não foram encontrados ensaios clínicos de fase III, apenas de fase I e II, tanto para o limoneno quanto o POH. As vias de administração utilizadas para o POH foram via inalatória (5 estudos), oral (13 estudos) e via tópica (2) e para o limoneno, a via oral. Como os ensaios estudaram cânceres diferentes não foi possível comparar os resultados entre eles, mas é possível constatar que alguns pacientes obtiveram estabilização da doença por alguns meses, 1 paciente de 1 estudo obteve resposta objetiva por quase 2 anos, mas o resultado potencialmente mais promissor foi a administração intransal de POH para tratar glioblastoma. No estudo com o limoneno houve uma paciente que apresentou resposta parcial mantida por 11 meses. Os principais efeitos adversos relatados foram gastrointestinais tanto para o limoneno quanto para o POH, entretanto o POH não foi bem tolerado pelos pacientes, provavelmente relacionado ao número excessivo de cápsulas ingeridas por dose (30). Apenas dois ensaios clínicos eram randomizados, controlados e cegos (POH por via tópica). Todos os ensaios clínicos apresentaram um nível de viés alto, devido a isso as informações deles obtidas devem ser vistas com cautela. Como não foi encontrado ensaios de fase III, não foram encontradas evidências que sustentem o uso do limoneno, POH, POOOH e PAH para tratar o câncer ou lesões pré-cancerosas.