A Toxoplasmose ocular (TO) é principal causa de uveítes posteriores no Brasil e em diversas partes do mundo, porém apenas um baixo percentual dos pacientes infectados pelo T. gondii é que manifesta a doença ocular. Frequentemente o indivíduo acometido sofre recorrências durante a vida, sendo esse aspecto emblemático do quadro ocular, mas os fatores de risco e susceptibilidade do hospedeiro tanto para a ocorrência da retinocoroidite quanto para as suas recidivas ainda não foram bem estabelecidos. A idade do indivíduo no momento da infecção e nos episódios de reativação vem sendo considerados como fatores determinantes no risco de recidiva, que também poderia estar associado ao polimorfismo genético de citocinas como IFN-γ que tem importante papel na imunidade contra patógenos intracelulares. O conhecimento do comportamento da doença e de fatores de risco pode trazer benefícios tanto no prognóstico quanto no manejo e acompanhamento dos indivíduos acometidos e também pode fornecer indícios para o esclarecimento da fisiopatogenia da doença. O presente estudo acompanhou 230 pacientes atendidos entre 2010 e 2015 no Laboratório de Oftalmologia Infecciosa do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas com toxoplasmose ocular ativa, avaliando a frequência da recorrência e sua correlação com gênero, idade, polimorfismo genético para IFN-γ +874T/A e número de lesões retinocoroidianas no atendimento inicial. O acompanhamento envolveu 118 (51.30%) homens e 112 (48.70%) mulheres, com idades que variaram de 14 a 77 anos com mediana de 30.97 anos (DP=11.38). Observou-se 52 (22.61%) casos de lesões primárias e 178 (77.39%) casos com cicatrizes de retinocoroidite associadas a lesão ativa no início do estudo. Durante o acompanhamento foram verificados 162 episódios de recidiva em 104 (45.22%) pacientes. Em 40 (17.39%) indivíduos foi observada baixa de visão severa (20/200 ou pior) no olho acometido atribuível a toxoplasmose ocular, estando associada a localização da lesão de retinocoroidite em 27 (67.50%) pacientes. Na análise de sobrevida verificou-se que o risco de recorrência durante todo o acompanhamento foi 60% maior em pacientes com lesão primária (HR=1.60, 95% CI=1.07-2.40) pelo modelo de Prentice, Williams e Peterson (PWP), sendo influenciada pela idade (HR=1.03, 95% CI=1.01-1.04) e pelo genótipo AT do polimorfismo genético para IFN +874 (HR=1,49, 95% CI= 1.04- 2.14). Entretanto, a associação do polimorfismo genético para IFN +874 TA não foi confirmada quando excluídos os pacientes com lesão única que não recorreram, não podendo, portanto, ser confirmada pela metodologia utilizada. A toxoplasmose ocular tem altos índices de recidiva nos primeiros anos de acompanhamento após um episódio de atividade sendo a baixa de visão severa causada frequentemente pela localização central da lesão de retinocoroidite. É fundamental considerar a localização da lesão em estudos que analisem o prognóstico de visão como medida de efetividade de estratégias de tratamento e prevenção. O risco de recidivas de toxoplasmose ocular após um episódio ativo aumentou com a idade e foi substancialmente maior nos indivíduos com lesão primária, o que poderia sugerir que indivíduos com essa característica e mais idosos seriam beneficiados por estratégias de profilaxia de recorrências com antimicrobianos.