O tratamento das leishmanioses é atualmente realizado com medicamentos que apresentam elevada toxicidade e risco de desenvolvimento de resistência. Além disso, o custo do tratamento para essas enfermidades é considerado elevado para o sistema de saúde pública da maioria dos países onde a leishmaniose é endêmica. A busca por novos medicamentos para o tratamento das leishmanioses ou por alternativas terapêuticas é considerada prioritária pela Organização Mundial da Saúde, outros organismos nacionais e internacionais e pela comunidade científica. Entre as alternativas, as formulações genéricas de medicamentos contribuem para reduzir seu custo e para garantia de disponibilidade das drogas, já que são doenças negligenciadas pelo mercado farmacêutico. A associação de medicamentos é uma alternativa que visa principalmente potenciar o efeito de fármacos e reduzir e/ou evitar o surgimento de resistências. O objetivo deste trabalho foi avaliar alternativas terapêuticas para infecções causadas por Leishmania de importância nosológica no Brasil, em três vertentes: 1°) avaliação da atividade leishmanicida do antimoniato de meglumina sintetizado por Farmanguinhos-Fiocruz (lotes TAM 01/03, TAM 02/03, TAM 03/03 e TAM 021/02), através da comparação com o fármaco referência Glucantime®-Aventis. Foram realizados ensaios in vitro em modelos de amastigota-like e amastigota intracelular para L. amazonensis, L. chagasi e L. braziliensis e ensaio in vivo em hamsters infectados com L. braziliensis. Os resultados mostraram que os quatro lotes de meglumina-Farmanguinhos apresentam atividade semelhante à do fármaco referência Glucantime®-Aventis, em ambos os modelos in vitro e in vivo. 2°) avaliação da atividade do fármaco oral miltefosina, recentemente registrada na Índia para o tratamento de leishmaniose causada por L. donovani, em modelo in vitro de amastigota intracelular sobre as espécies L. amazonensis, L. chagasi, L. braziliensis e L. guyanensis. A miltefosina se mostrou igualmente ativa para as espécies de Leishmania avaliadas, no entanto, a comparação com a L. donovani mostrou que esta espécie é mais sensível. As CI50s de miltefosina encontradas para as Leishmania foram 17 a 19 vezes menores do que a CC50 para macrófago que foi de 37,8 µg/mL e, 3°) identificação de possíveis sinergismos na associação entre a paromomicina (PA) e o Glucantime® (Glu), miltefosina (Milt), anfotericina B (Anf B) e azitromicina (Azi) para L. chagasi e L. braziliensis. Foi utilizado modelo de infecção de macrófagos peritoneais de camundongos e a atividade inibitória sobre o crescimento de amastigotas intracelulares foi determinada pela comparação com controle não submetido à ação de drogas. Foram analisadas sete concentrações para cada um dos cinco fármacos, em ensaios realizados em triplicatas, com três repetições, adotando-se o mínimo de 80% de infecção de macrófagos para validação dos ensaios e considerando-se o número médio de amastigotas contados em 100 macrófagos corados pelo Giemsa, por microscopia de imersão. A associação da PA com os demais fármacos foi determinada através da variação nas concentrações e proporções dos fármacos. Todos os ensaios foram realizados com cepas de referências. Os ensaios de associação permitiram a composição de uma matriz de tempos de exposição às drogas e concentrações dos fármacos isolados para definição dos parâmetros dos ensaios das associações binárias. Para L. braziliensis, o sinergismo foi observado entre PA e ANF, PA e Glu, onde o somatório das concentrações fracionadas inibitórias foi menor do que 0,5 (CFI 0,5). Já para L. chagasi, sinergismo foi sugerido para as associações PA e Anf B, PA e Azi e PA e Milt. Os resultados deste estudo abrem perspectivas para o investimento na produção nacional de antimoniato de meglumina, sugere que os estudos clínicos com miltefosina no país devem incluir uma etapa de definição de dose e aponta para o benefício da combinação de fármacos para o tratamento das leishmanioses.