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Água mole, terra dura, povo brada até que fura: (o que narram CPT e Fiocruz sobre os conflitos socioambientais no Brasil)

O conflito em sociedade pode indicar que algo no contexto das relações grupais/interpessoais precisa de mudança. Daí que alguns autores das ciências sociais vão falar em potencial criativo dos conflitos. Há, porém, instituições que documentam situações conflitivas Brasil adentro, notadamente a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), considerando seus aspectos mais controversos, não necessariamente aceitando-os como ocorrências naturais e, sim, fruto de tensões arbitrárias, muitas vezes evitáveis. Através dos mapeamentos realizados sistematicamente por Fiocruz e CPT, os conflitos socioambientais, incluindo aqueles pela água, são retratados do ponto de vista de suas consequências nocivas para povos do campo e, em menor grau, pessoas em zonas urbanas. Muitas vezes porque projetos de desenvolvimento econômico ou políticas públicas salientam as diferentes visões de sujeitos em relação à apropriação de bens naturais. Posto isso, e diante também da importância das lutas serem trazidas a público, nos dedicamos a notar como a Pastoral e a Fiocruz organizam uma narrativa a partir de livros impressos e mapa online. Detalhamos a forma desta narrativa, separando os seus argumentos em “etiquetas” (situacionalidade, representatividade, vulnerabilidade, cientificidade, religiosidade e papel da imprensa), as quais nos indicam a existência de uma história sobre as lutas por recursos naturais. Nessa narrativa, saberes canônicos, notadamente religião e ciência, operariam para legitimar a narrativa e, obviamente, a luta das populações, quase sempre invisibilizada pela imprensa. Os meios de comunicação, nesse contexto, atuariam como antagonistas de interesses democráticos de povos e comunidades tradicionais e, ao mesmo tempo, fonte destacada por, vez outra, repercutir casos de conflito, tal como caderno e mapa. Nessa história, a crise da água, por exemplo, inflamaria os casos e as estatísticas robustas seria o modo de apresentar e dimensionar os casos. Os números rigorosamente coletados e interpretados por especialistas são, como se constata, questionados pelas próprias instituições que os fabricam: mostram e/ou ocultam os rostos? Analisamos 14 edições dos relatórios Conflitos no Campo Brasil, da CPT, e do Mapa de Conflitos da Fiocruz, percorrendo páginas impressas e virtuais tentando etiquetar a narrativa e identificando aspectos implícitos e explícitos nos textos que divulgam os conflitos por recursos hídricos e tentando especular o que essa narrativa produziria.


Tipo de documento

Ano de publicação

2017

Autor

  • Santos, Edvan Lessa